terça-feira, 7 de outubro de 2014

Crescimento traz novas demandas para a cidade de Campo Grande

O crescimento dos municípios pequenos do RN – que nos últimos 20 anos dobraram ou triplicaram o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) – também trouxe novas demandas. Um deles é a geração de emprego e renda. Em Campo Grande, por exemplo, a população diminuiu de 9540 para 9289 habitantes nos últimos 20 anos. A movimentação populacional praticamente nula – para mais ou para menos – acontece porque a maior parte da população que teve acesso ao ensino migra para as cidades médias em busca de emprego.

Bruno Rocha, de 18 anos, integra a filarmônica da cidade

Segundo o economista da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Willian Nunes, isso acontece pela ausência de mercado local, um problema comum às cidades pequenas e distantes dos centros. “Nas cidades pequenas, que são bastante agrárias, o maior empregador é o setor público. No norte e nordeste as cidades pequenas sofrem com a geração de emprego local, o que leva as pessoas a se deslocarem para outras cidades”, apontou.

De acordo com o especialista em desenvolvimento regional, é preciso investir na criação de pequenos negócios. “É difícil atrair grandes empresários. Nessas cidades, é preciso gerar empregos a nível local”, aponta. Aldemir Freire, superintendente do IBGE, completa. “O Seridó tem uma coisa a ensinar ao RN que é o investimento em pequenos negócios. Eles não tornam ninguém milionário, mas fortalecem (a região)”, avisa.

Em Campo Grande, a maior parte da renda da população gira entre as bolsas de assistência social, aposentadorias e o serviço público, segundo a prefeitura. “Os três asfaltos (rodovias) tornam CG um município com bom potencial de escoamento”, garante o secretário municipal de educação, Junior Liberato. De acordo com o secretário, 90% dos estudantes que se formam vão para cidades próximas, como Assu e Mossoró, para seguir no ensino superior ou buscar emprego.

A população, porém, tem reclamado da ausência de outras oportunidades. “O comércio também caiu muito porque a concorrência é demais. Cada pobre quer vender o seu. Se há 20 anos só tinha o meu mercadinho, hoje tem demais”, afirma. Manoel Milton Bezerra, 74 anos, dono do mercadinho Triunfo há 40. Prefeito do município, Francisco Chagas, a administração tem focado em fazer parcerias com o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae) e com o Governo Federal, com o objetivo de trazer cursos de qualificação profissional para áreas necessárias ao município. Um exemplo, segundo ele, é a turma Pronatec, que ofereceu 200 vagas para ensino de música. “Em um município como o nosso, a capacidade de investimento está esgotada até para manter o crescimento. Somente com qualificação e treinamento que poderemos manter o desenvolvimento”, afirma Chagas.

Bate-papo - Willian Eufrásio Nunes Pereira
Economista da UFRN

Como podemos avaliar esse crescimento do IDH?
Não podemos ver o IDH como algo do momento, é intergeracional. Costumamos dizer que pobreza gera mais pobreza. Então, para dar um salto é preciso ter mecanismos tanto políticos quanto econômicos ou sociais para poder fazer essa ruptura, que também não se faz de um momento para outro. A mobilidade social pode acontecer intrageração – uma pessoa melhorar de padrão de vida – ou intergeração – do pai para o filho. Isso muda com o tempo ou política econômica. Nos últimos dez anos, a mudança foi intrageracional. Entre os anos 1980 e 1990 era difícil essa percepção: os pais só viam mudança na vida dos seus filhos.

O primeiro investimento tem que ser em educação?
Não necessariamente, mas os três elementos do IDH estão interconectados, provocam um efeito simultâneo. A questão da renda: a política de revalorização do salário mínimo permitiu que as pessoas tivessem um ganho sobre a inflação, mais renda, o que permite uma melhor alimentação, por exemplo, isso também vai garantir maior qualidade de vida. Mas a longevidade não muda tão rapidamente, pois também considera outros aspectos. A educação é mais rápido, responde no mesmo período do ano, basta que eu coloque essas crianças na escola. Mas também leva tempo fazer com que a criança responda ao conhecimento.
Fonte: Tribuna do Norte

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