Da
esq. para a dir. a antiga praça João do Vale e a Avenida Joaquim Leal
(popularmente chamada de Via Costeira), essas duas imagens refletem bem o
quanto a cidade evoluiu nas últimas décadas. (Arte: Thiago Gondim). Na
calçada da casa, gerações distintas ocupam duas cadeiras de fio de
plástico: Rita Rosento de Góis, 79 anos, dona da pousada D. Rita Góis,
na Via Costeira de Campo Grande, Oeste Potiguar. Ao lado a neta,
Fernanda Francisco, 20 anos. As duas se admiram do progresso: a praça da
Via Costeira pintada e arrumada, a quantidade de caminhões que cortam a
principal rua da cidade. Tudo mudou nos últimos 20 anos.
Severina Alcântara da Silva, moradora de Campo Grande (Foto: Junior Santos).
Quando Rita chegou ao município, vinda de Caraúbas, boa parte de
Campo Grande ainda estava na areia, e os empregos eram escassos. “Meu
marido era o pedreiro daqui, só tinha ele”, lembra Rita. Após o
falecimento do esposo, montou a casa de morada D. Rita, bem movimentada
agora que três rodovias (BR110, 226 e RN 260) cortam o município. Apenas
um dos 19 filhos de Rita se mudou: a mãe de Fernanda. “Quando eu era
pequena já tinha a praça, calçamento (em Campo Grande), mas o problema é
emprego. O custo de vida é bom, tem emprego nas fábricas, mas não era o
que eu queria”, diz a neta, que vai começar a estudar nutrição em
Mossoró.
As diferentes visões – e necessidades – de Rita e
Fernanda refletem os números. Campo Grande – ou Augusto Severo, como
ainda está registrado no mapa – é o 9º entre os 10 municípios potiguares
que mais evoluíram o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)
em duas décadas. De 0,263 (muito baixo) em 1991 para 0,621 (médio) em
2010. Há 20 anos, o município ocupava o 148º no estado, passando para
93º em 2000 e 56º em 2010. O IDHM é calculado com base na renda,
expectativa de vida e acesso à educação, o índice aponta o nível de
desenvolvimento dos municípios, com notas que vão de zero a um.
Os
dados são do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, feito pela
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNAD) com base nos
censos demográficos brasileiros.
A pesquisa mostrou que os
municípios que mais cresceram no RN têm menos de 10 mil habitantes, como
é o caso de Bodó, cidade que ocupava o posto de pior IDHM do Rio Grande
do Norte em 1991. Na época, o índice era de 0,136. A renda per capita,
por exemplo, era de R$ 61,80, quando no Brasil já era de R$447,56. A
taxa de analfabetismo entre as crianças de 11 a 14 anos era de 57,47% no
município. Em 2010 o município chegou ao IDHM 0,63, um crescimento de
362%.
Entretanto, nem todos cresceram o suficiente para deixar
as piores colocações. É o caso de Venha Ver, o terceiro que mais cresceu
em 2010, que saiu de 0,22 no IDHM para 0,56 – mas ainda é o quinto pior
índice do RN. Em comparação, Natal tinha o IDHM baixo em 1991 e subiu
para alto em 2010, mas o crescimento foi um dos menores: o aumento foi
de apenas 33,39%.
De acordo com Aldemir Freire, superintendente
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o desenvolvimento
desses pequenos municípios é fruto das políticas federais adotadas nos
últimos dez anos.
“O avanço é identificado no geral: não há
sombra de dúvida que houve um avanço das políticas federais”, aponta. De
acordo com Freire, políticas assistencialistas, como o bolsa família e o
crescimento do salário mínimo aumentaram a renda da população, o que
pode assegurar uma qualidade de vida melhor e aumento da longevidade.
“Ainda temos uma infinidade de problemas, mas estamos numa rede de
avanços. Podemos reclamar apenas da velocidade (desse avanço”, pontua.
Ainda
de acordo com o superintendente, a “explosão” de crescimento dos
municípios é facilmente explicável: se você tem péssimas condições, é
fácil crescer com investimentos simples. Quem já está em um nível bom de
crescimento – o caso das cidades-pólo, como Natal – precisa de
investimentos maiores. “Depois que você cresce, crescer ainda mais não é
fácil, mas não tenho dúvida que de 2010 para cá já avançamos”, avisou.
Fonte: Tribuna do Norte